20 de abril de 2010

O Fator Artesão



Quando um artesão se dedica sempre e exclusivamente à fabricação de um único objeto, aprende a executar esse trabalho com perícia peculiar. Mas, ao mesmo tempo, perde a capacidade geral de aplicar-se à direção do trabalho; a cada dia, ele se torna mais hábil e menos industrioso, e pode-se afirmar que nele o homem se degrada, à medida que o operário se especializa. O que devemos esperar de um indivíduo que passou vinte anos de sua vida fazendo cabeças de alfinete? A que outra coisa mais sua
inteligência poderá aplicar-se, senão a procurar um modo melhor de fazer cabeças de alfinetes? O próprio corpo desse homem terá adquirido hábitos fixos que nunca mais perderá; em uma palavra, ele deixa de pertencer a si mesmo para pertencer ao ofício que escolheu. Em vão as leis e os costumes retiraram ao seu redor os obstáculos, abrindo-lhe mil caminhos diferentes para a fortuna: um sistema industrial mais forte do que as próprias leis e costumes condenou-o a uma tarefa e, frequentemente, a
um lugar do qual nunca mais sairá. Em meio ao movimento universal, ele permanece imóvel.
Com o avanço do princípio da divisão do trabalho, o operário torna-se cada vez mais fraco, mais limitado e menos independente: a arte faz progressos, mas o artesão regride. Por outro lado, à medida que descobrimos que os produtos industriais são menos caros e melhores, com a difusão da manufatura e a acumulação dos capitais, surgem homens ricos e cultos para explorar indústrias até então administradas
por artesãos canhestros ou ignorantes. Desse modo, enquanto a ciência industrial degrada continuamente a classe operária, ela eleva a dos patrões. E, à medida que o operário restringe cada vez mais sua mente ao estudo de um único detalhe, o patrão paira, todos os dias, sobre horizontes mais vastos.
Adaptado de: A. de Tocqueville, séc. XIX.

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